Na poesia “Preparação para a morte”, Manuel
Bandeira, o “São João Batista do Modernismo” (segundo o poeta Mário de Andrade)
provavelmente teria exposto sua mais íntima visão sobre este que foi um tema
constante em sua obra, a morte: “A vida é um milagre / Cada flor, / com sua
forma, sua cor, seu aroma, / cada flor é um milagre. / Cada pássaro, / com sua
plumagem, seu vôo, seu canto, / cada pássaro é um milagre. / O tempo, infinito,
/ o tempo é um milagre. / A memória é um milagre. / A consciência é um milagre.
/ Tudo é milagre. / Tudo, menos a morte. / Bendita a morte, que é o fim de
todos os milagres.”.
Na verdade Manuel Bandeira tinha uma forte justificativa para considerar a vida, o tempo, a memória e a consciência como milagres e a morte como o fim de todos eles, já que durante quase toda sua vida viveu meio que paranoicamente perseguido pela ‘indesejada das gentes’, julgando que a qualquer momento ela, a morte, viesse acometê-lo.
Na verdade Manuel Bandeira tinha uma forte justificativa para considerar a vida, o tempo, a memória e a consciência como milagres e a morte como o fim de todos eles, já que durante quase toda sua vida viveu meio que paranoicamente perseguido pela ‘indesejada das gentes’, julgando que a qualquer momento ela, a morte, viesse acometê-lo.
Filho do engenheiro Manuel
Carneiro de Souza Bandeira e de Francelina Costa Ribeiro, Manuel Carneiro de
Souza Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1.886, em Recife, Pernambuco.
“Sou bem nascido. Menino, fui como os demais, feliz.”; essa frase – da epígrafe de “A Cinza das Horas” – dá
uma noção de que Manuel Bandeira teria tido uma infância feliz, e teve. Dentre
as lembranças, as viagens com a família a Petrópolis, Santos e sul do país,
ficaram gravadas em sua memória.
De 1.892 a 1.896 residiu
fixamente na casa do avô, lá mesmo em Recife, até seus pais resolverem se mudar
para o Rio de Janeiro, onde ele residiria por mais 6 anos, tendo estudado no
Colégio Nacional (hoje Colégio Pedro II). Depois, aos 17 anos, mudou-se para
São Paulo onde se matriculou na Escola Politécnica com o sonho de ser
arquiteto. Porém, nas férias de maio de
1.904, aos 18 anos, um inesperado fato viria abalar todas as expectativas e
projetos futuros de Manuel Bandeira. Após regressar de um passeio a cavalo,
numa fazenda em Itaipava, no Rio de Janeiro, ele é despertado no meio da noite
por uma crise de hemoptise; o lençol manchado de sangue denunciava a gravidade
da crise.
O diagnóstico médico mudaria
para sempre os hábitos e as perspectivas do jovem Manuel Bandeira: era
tuberculose, uma doença altamente mortal no início do século XX. Foi obrigado a desistir dos estudos e a
abandonar a casa dos pais à procura de climas que pudessem facilitar o seu
tratamento, tais como os das cidades de
Campanha (Minas Gerais), Teresópolis, Itaipava (Rio de Janeiro), Maranguape,
Uruquê e Quixeramobim (Ceará). E foi nesse período que Manuel Bandeira
intensificou um passatempo da adolescência: escrever poesias, às quais enviava
aos pais e tios para serem publicadas na revista “A Careta”.
A partir dos 26 anos começou
a fazer uso dos versos livres e, aos 27 anos, em 1.913 seu pai o mandou para o
sanatório de Cladavel, na Suíça, onde ele conheceu Paul-Eugène Grindel – que
mais tarde se tornaria o popular poeta Paul Éluard – com o qual aprimorou sua
técnica de versar.
Em 1.914 retornou ao Brasil,
avisado por seu médico de que tinha “lesões teoricamente incompatíveis com a
vida mas que os sintomas não correspondiam às lesões e que poderia viver, quem
sabe, 5, 10, 15 anos mais.”.
Novamente fixado na casa dos
pais ele escreveu em 1.917 seu primeiro livro: “A Cinza das Horas” e nessa época ele atravessou um período muito
triste em sua vida (entre os anos de 1.916 a 1.922 faleceram sua mãe, sua irmã Maria
Cândida, seu pai e seu irmão Antonio). A melancolia foi uma de suas maiores
inspiradoras, responsável por muitos de seus sucessos literários.
Em 1.919, adentrando na Era
do Modernismo, publicou “Carnaval” e
em 1.922, na Semana de Arte Moderna, mesmo não tendo comparecido, incluiu a
poesia “Os Sapos”, aplaudida por
alguns, vaiada por outros.
Com a morte dos entes
queridos mais próximos, naquele mesmo ano de 1.922, Manuel Bandeira deixou a
antiga casa para morar em Santa Teresa, também no Rio.
Em 1.924 ele publicou “Poesias” e, em 1.930 “Libertinagem”, uma de suas mais
repercutidas obras, onde estão “Pneumotórax”,
“O Cacto”, “Profundamente”, “Vou-me
embora pra Pasárgada”, entre outras (depois vieram os livros “Estrela da Manhã” de 1.936 e “Poesias Escolhidas” de 1.937).
Em 1.938 começou a lecionar
Literatura no Colégio Pedro II e, em 1.940 foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras.
A partir de 1.943 passou a
dar aulas na Faculdade Nacional de Filosofia e nos anos seguintes publicou “Mafuá do Malungo” (1.948), “Opus 10” (1.952), “Estrela da Tarde” (1.960), “A
Morte” (1.965), “Meus Poemas
Preferidos” (1.966), dentre outros.
Manuel Bandeira, o homem que
viveu quase toda sua vida sob cuidados especiais, renunciando a quase tudo,
morreu, não de tuberculose como ele pensava, mas de parada cardíaca, aos 82
anos de idade, no dia 13 de outubro de 1.968, no Rio de Janeiro.
Texto: Renato J. Oliveira abril de 2.001
(Esse texto foi publicado na edição # 22 do
Informativo Mix Cultural, de 07 de abril de 2.001)
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