29.6.17

Quem é você?



Hoje, confuso, tentando se encontrar,
mentindo para os outros e mentindo para si,
memórias e lembranças vivem a lhe torturar
e da realidade já não consegues fugir.

Quem é você? O que você almeja?
Qual é a sua maior ambição?
Quem é você? O que você deseja?
Por quê fazes da mentira a sua razão?



Ontem, vivendo os seus tantos personagens,
mataste, aos poucos, a sua essência real.
Agora você busca entre as suas miragens
algo que lhe remeta ao seu estado original.

Quem é você? O que você deseja?
Onde está a sua obstinação?
Quem é você? O que você almeja?
Até onde vai sua passiva prostração?



Renato J. Oliveira             04 de junho de 2017


26.6.17

Estado Laico: A Farsa



Ele bradam que o estado é laico, que o estado é secular,
querem tirar das repartições públicas as cruzes;
incomodam-se com símbolos cristãos em qualquer lugar,
são como os iluministas que nos deram trevas ao invés de luzes.


Não, estes hipócritas não querem um estado laico no país,
o que eles querem é um estado laicista, um estado ateu,
de preferência que só permita e chancele o que lhes condiz
e que proíba a manifestação da fé no verdadeiro Deus.


Eles não se incomodam com candomblé, espiritismo ou islã,
o alvo predileto é sempre o Deus que realmente existe,
do contrário não se focariam apenas na religião cristã
e também abominariam os muçulmanos, com o dedo em riste.


Até a frase "Deus seja louvado" querem suprimir das notas,
postulam até tirar a Bíblia Sagrada das bibliotecas escolares,
agem como crianças birrentas, como perfeitos idiotas,
movidos por sua cristofobia e suas 'crenças' particulares.


Estado laico virou pretexto para o escárnio cristão,
e as minorias querem impor suas ideias à maioria,
pisam nas leis e desrespeitam princípios da Constituição
e o Artigo 208 do Código Penal para eles é mera alegoria.


Entendam, imbecis, vocês vivem em um país de maioria cristã!
E mais: construído e constituído por princípios e ideias católicos.
O que querem? Ocultar a realidade da luz de toda manhã?
Ou transformar em cerrado o que sempre foi bucólico?


Sim, é verdade que temos liberdade de crença ou descrença,
mas, também é verdade que somos o país mais católico do mundo.
Portanto, de nada adianta tratar com desprezo ou indiferença
o fato de que nossa vontade é soberana diante de seus anseios imundos.


Por detrás de toda essa causa e de toda essa militância
escondem-se os ideais mais imorais e mais perniciosos,
enrustem-se a cristofobia, o ódio e a intolerância
e os mais hediondos sentimentos antirreligiosos.


Como deve ser frustrante a vida de uma pessoa assim:
ter que conviver com a grande maioria que pensa diferente.
Ver o Cristo Redentor deve lhes ser algo tão ruim
e até nomes de cidades talvez os deixem descontentes.


E os estados de São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina?
Será que os laicistas sonham em um dia renomear?
Será que eles mandariam-nos para a forca ou para a guilhotina
para ver o sonho imundo de um mundo laicista e ateu prosperar?


Desonestamente, atacam símbolos cristãos que representam a paz,
mas, nem se incomodam com os símbolos que só representam a guerra.
Nunca vi, por exemplo, um laicista ou ateu se incomodar
com símbolos comunistas que só trouxeram caos e mortes na Terra.


Já pensaram em como seria o mundo sem os preceitos cristãos?
Certamente não, já que vocês apenas atacam e só se iludem.
Mas, se já não suportam mais este tipo de situação,
sigam o ditado: "os incomodados que se mudem"!


A Igreja Católica e suas instituições espalhadas pelo mapa
muitas vezes fazem pelo povo o que o governo não faz.
Cite-me, ateu, uma figura mais influente que o Papa
especialmente quando o assunto é lutar pela paz.


Aprendam de uma vez: Estado laico não é estado antirreligioso
e o Brasil tem suas raízes e alicerces no catolicismo.
Se és ateu ou esquerdista, não adianta ficar furioso
pois serás sempre a minoria em eterno anacronismo.


Renato J. Oliveira                     25 de junho de 2.017







“Todos que têm preconceitos contra símbolos religiosos, de qualquer religião, 
são, a meu ver, complexadas

Ives Gandra Martins








Estado laico é diferente de Estado antirreligioso

por: Paulo Henrique Hachich De Cesare (advogado)


Há poucos dias foi noticiado que o Conselho da Magistratura do TJ/RS, em decisão unânime, acatou pedido da Liga Brasileira de Lésbicas e de outras entidades sociais sobre a retirada dos crucifixos e símbolos religiosos nos espaços públicos dos prédios da Justiça gaúcha. E prosseguia a notícia: Disse o magistrado que resguardar o espaço público do Judiciário para o uso somente de símbolos oficiais do Estado é o único caminho que responde aos princípios constitucionais republicanos de um Estado laico, devendo ser vedada a manutenção dos crucifixos e outros símbolos religiosos em ambientes públicos dos prédios.

A decisão acima citada, segundo entendemos, subverteu o conceito de Estado Laico e mais particularmente do Estado brasileiro, como delineado pela Constituição Federal de 1988.

Como é de sabença trivial, Estado laico, secular ou não confessional é aquele que não adota uma religião oficial e no qual há separação entre o Clero e o Estado, de modo que não haja envolvimento entre os assuntos de um e de outro, muito menos sujeição do segundo ao primeiro. Portanto, de plano se verifica que Estado laico não é sinônimo de Estado antirreligioso.

Antes de prosseguir, convém repisar a diferença entre dois conceitos: laicidade e laicismo.

De modo bastante sucinto, a laicidade é característica dos Estados não confessionais que assumem uma posição de neutralidade perante a religião, a qual se traduz em respeito por todos os credos e inclusive pela ausência deles (agnosticismo, ateísmo). Já o laicismo, igualmente não confessional, refere-se aos Estados que assumem uma postura de tolerância ou de intolerância religiosa, ou seja, a religião é vista de forma negativa, ao contrário do que se passa com a laicidade.

A Constituição Federal de 1988, como de resto a maioria das anteriores, não permite nem mesmo que se cogite ou suspeite de laicismo no Estado brasileiro. Com efeito, qualquer ideia de laicismo é repudiada ab ovo, pois já no preâmbulo de nossa Carta é solenemente declarado: “promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil” (g.n.). Obviamente, um Estado que se constitui sob a proteção de Deus pode ser tudo, menos um Estado ateu ou antirreligioso.

Decerto, porém, que o apreço e o reconhecimento dos valores religiosos não ficaram somente no preâmbulo. Longe disso, a Constituição de 1988 foi bastante zelosa ao dispor sobre estes valores. Confira-se:

Art. 5º ...

(...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.

§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...) VI - instituir impostos sobre:

(...) b) templos de qualquer culto;

Art. 210. ...

§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

Art. 226. ...

(...) § 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.»

E o apreço é tal pela religião que até o art. 19, que define a laicidade de nosso Estado, não deixa de conferir garantias religiosas:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; (g.n.)


Note-se que as vedações deste art. 19 são claríssimas: não estabelecer cultos religiosos nem igrejas, não subvencioná-los e não manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança. É certo que este dispositivo deve ser interpretado taxativamente, pois se trata de norma restritiva. Assim sendo, surge naturalmente a pergunta: de que forma um crucifixo na parede incorreria em alguma das vedações do art. 19, inc. I da Constituição Federal? A resposta é óbvia: de forma nenhuma. E se não incorre nas citadas vedações não há nada que justifique sua proibição. Acreditamos que esta razão baste para demonstrar o equívoco da decisão gaúcha, mas há mais.

Partindo de outro enfoque, abstraindo a conclusão do parágrafo anterior, podemos ir direto ao ponto e indagar: a existência de algum símbolo religioso em prédio público macula a laicidade do Estado brasileiro?

A resposta nos parece de uma clareza solar, podendo ser facilmente encontrada a partir de outras singelas indagações, com base nos dispositivos constitucionais acima transcritos. Algo assim: o fato de o Estado ...

a) assegurar o livre exercício dos cultos religiosos e garantir a proteção aos locais de culto e a suas liturgias, fere a laicidade do Estado?

b) assegurar a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva, fere a laicidade do Estado?

c) permitir que alguém oponha validamente sua crença religiosa ao cumprimento de obrigação legal a todos imposta, mediante prestação alternativa, fere a laicidade do Estado?

d) eximir do serviço militar obrigatório, mediante serviço alternativo, quem alegar imperativo de consciência decorrente de crença religiosa, fere a laicidade do Estado?

e) isentar do mesmo serviço obrigatório os eclesiásticos, compromete a laicidade do Estado?

f) conceder imunidade de impostos aos templos de qualquer culto, não fere a laicidade do Estado?

g) prever o ensino religioso facultativo como disciplina dos horários normais das escolas compromete a laicidade do Estado?

h) conferir efeito civil ao casamento religioso, na forma da lei, não fere seu caráter laical?

i) impor a si mesmo a proibição de embaraçar os cultos religiosos, não compromete seu caráter laico?

A resposta a todas as indagações acima é necessariamente negativa, pois o contrário corresponderia à negação do Estado laico, e sem esta premissa não subsistiria a presente questão.

A próxima pergunta, então, é óbvia e certamente já está na mente do leitor: se nada disso compromete o caráter laico do Estado, pois tudo está previsto na Constituição, como seria possível que algo muito mais singelo, como um simples crucifixo na parede, pudesse malferir a laicidade do Estado?

Com todas as vênias, nos parece absurdo supor que a mesma Constituição que abre mão de cifras milionárias com a concessão de imunidade aos templos de qualquer culto (templo este que é considerado em sentido lato pela jurisprudência), e que se desdobra para tutelar os valores religiosos, conforme visto nos dispositivos acima transcritos, possa proibir, implicitamente(!), a permanência de símbolos religiosos que tradicionalmente se encontram em alguns prédios públicos.

Com efeito, quem pode o mais, pode o menos, não há como fugir deste truísmo. Assim, se a Constituição admite o mais no campo religioso, sem que se possa considerar o Estado menos laico por conta disso, é evidente que também admite o menos (o crucifixo na parede).

Outro ponto que muito nos preocupa neste tema – e que vem se tornando lamentavelmente comum – é a utilização repetitiva de sofismas. Trata-se de afirmações vazias que procuram transformar o absurdo em lógica, é o caso noticiado do Conselho da Magistratura gaúcha, segundo o qual “resguardar o espaço público do Judiciário para o uso somente de símbolos oficiais do Estado é o único caminho que responde aos princípios constitucionais republicanos de um Estado laico, devendo ser vedada a manutenção dos crucifixos e outros símbolos religiosos em ambientes públicos dos prédios”.

Ora, nada mais equivocado. Nada além de uma frase bonita, mas sem conteúdo: resguardar do quê? De algo vedado pela Constituição? Já se viu que não. Único caminho para onde, para quê? Para a intolerância. Ao contrário do afirmado pelo referido Conselho, acreditamos que o que responde aos princípios constitucionais republicanos de um Estado laico se chama respeito, e compreensão acerca da herança cultural e religiosa de um país. Portanto, a presença de um símbolo religioso numa repartição pública, só por si, não tem o condão de nem mesmo arranhar a laicidade do Estado.

Argumenta-se ainda (incansavelmente), que os símbolos são cristãos e nem todos o são, daí a inconstitucionalidade. Este tipo de argumento traz à memória um fato noticiado há algum tempo, uma pós-adolescente, mulher de um jogador de futebol, se negara a entrar no carro de sua mãe por haver nele uma pequena imagem religiosa, doutra fé que não a da garota. Ou seja, intolerância religiosa pura. E não é nada além desse tipo de intolerância que o Judiciário tutela quando determina a retirada de objetos religiosos tradicionais das repartições públicas, sob a alegação de estar agindo em defesa da laicidade ou de qualquer outro princípio republicano.

Não se perca de vista que o Brasil é um país eminentemente cristão, logo, qual o tipo de imagem religiosa que se supõe encontrar disseminada? Haveria aí alguma concessão do Estado em prol de uma religião e em detrimento das outras? De modo algum, pois ou tais imagens estão por tradição nos referidos prédios, algumas há séculos, ou são miudezas carreadas pela fé e tradição dos que laboram no local, nada além.

E o não-cristão? E o ateu e o agnóstico? Como ‘ficam’? Esses não terão sua esfera jurídica atingida em absolutamente nada, pois, se não forem cristãos, basta ignorar o crucifixo ou considerá-lo como um penduricalho na parede. Ou assim ou teremos um Judiciário que premia a intolerância e se vocaciona ao acolhimento das pretensões mais mesquinhas que insistem em acompanhar a humanidade através dos séculos.


Fonte: http://www.conjur.com.br/2012-mar-21/estado-laico-nao-sinonimo-estado-antirreligioso-ou-laicista

* texto de 2012







18.6.17

Ateus e a eterna negação do óbvio


Preste atenção na seguinte história.
Suponhamos que você esteja dialogando com alguém - um conhecido, talvez - quando, no decorrer da conversa, você comente que tem algum grau de parentesco com uma determinada celebridade, quer seja esta artística, política, ou seja lá o que for.
Suponhamos que isso seja verdade e que mesmo através de um diálogo eloquente, seu interlocutor duvide aberta e declaradamente e lhe desafie a provar o que está dizendo.
Você, naturalmente seguro de si, aceita o desafio e exibe uma foto de família onde a celebridade em questão aparece abraçada a ti.
Ainda duvidando da veracidade da história, ele argumenta que aquela foto não poderia provar nada, portanto, era só a sua palavra contra a dúvida dele.
Você, então, mostra-lhe um documento provando que a tal celebridade realmente faz parte da sua família e acredita que diante desta forte evidência, ele, enfim, se convença de vez.
No entanto, ainda não convencido, ele contesta a legitimidade do documento, alegando que é muito fácil falsificar ou forjar um papel como aquele.
Não há porque perder a calma, afinal de contas, a verdade está contigo e "quem fala a verdade não merece castigo". Você se lembra que o escrivão que homologou o documento mora nas proximidades e que, por uma feliz coincidência, é seu amigo pessoal. Após uma breve visita, sua história é confirmada pelo escrivão e, mesmo assim, isso não é suficiente o bastante para convencer o chato interlocutor - ele agora alega que você pode muito bem ter combinado aquilo tudo previamente com seu amigo.
Não satisfeito em apenas duvidar, ele passa a tripudiar de você, acusando-o de ser um grande mentiroso
Paciência tem limite. Você então saca o telefone celular e liga para o seu famoso parente, a fim de obter dele próprio uma declaração que confirme a sua história. Só assim não restaria qualquer dúvida.
Entretanto, mesmo após falar com seu parente ao celular, fazer diversas indagações e tudo o mais, ele ainda não consegue se convencer. Apesar de todo um conjunto de evidências, além da sua palavra e da confirmação oral do ilustre parente, ele alega que tudo faz parte de uma conspiração e que qualquer pessoa poderia muito bem ter assumido aquele papel ao telefone.
Agora ele passou dos limites. Mesmo sabendo que não tem nenhuma obrigação de provar nada a ele, você passa a encarar o pequeno entrevero como uma espécie de desafio.
Vocês tomam um táxi e dirigem-se até a residência de seu parente. Lá ele confirma pessoalmente a sua história e exibe uma série de provas para corroborá-la.
Está provado! Você agora tem absoluta certeza de que o convenceu plenamente.
Engano seu.
Ele afirma categoricamente que você é um mentiroso, um falsário, farsante e, que tudo aquilo, a exemplo das demais evidências, fazia parte de uma bem elaborada conspiração, cheia de provas forjadas e dois falsos testemunhos.
Qual seria a sua reação diante deste incômodo acontecimento?
- "Ah, quer saber, cara, vá para o inferno!"


Estou usando esta pequena história fictícia para fazer uma simples analogia com a descrença exacerbada e até irracional dos ateus. Analisemos o caso a seguir - este sim real e verídico - e façamos uma comparação.
Antes do século XIX, os ateus, em sua ânsia de só atacar e simplesmente negar por negar, afirmavam totalmente seguros de si que Babilônia não passava de uma lenda, mais um dos tantos mitos da Bíblia.
Após a metade do século XIX, graças ao trabalho incessante de vários arqueólogos (especialmente do alemão Robert Koldewey), caíram por terra todas as acusações céticas dos ateus de que a Babilônia nunca teria existido.
O próximo passo foi duvidar da existência do rei Nabudonosor, entretanto, mais uma vez a arqueologia trouxe à luz a verdade, através da descoberta de tabletes e tijolos contendo inscrições com o nome do antigo rei babilônico.
Ainda no intuito de descredenciar os escritos de Daniel, os ateus passaram a duvidar da existência de Nabonido e Belsazar, mencionados pelo profeta como os últimos reis da Babilônia.
Vieram à tona alguns tabletes cuneiformes que mencionavam Nabonido e Belsazar que, aliás, eram pai e filho, respectivamente.
Não obstante, os ateus se voltaram para os três amigos de Daniel que, de acordo com os relatos bíblicos, foram lançados na fornalha ardente: Hananias, Misael e Azarias (Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, em caldeu). A acusação era do mesmo teor, ou seja, todos eles não passavam de mitos, lendas.
Mais uma vez a arqueologia comprovou a veracidade dos relatos do livro de Daniel, através do descobrimento de um prisma de argila que continha os nomes dos oficiais do rei Nabucodonosor, entre estes, os três amigos de Daniel.
Restou aos ateus contestar a data em que os relatos do profeta teriam sido escritos. E eles tinham um fortíssimo argumento. Julgue você mesmo: os ateus, tão preocupados em provar a inexistência daquilo que dizem não acreditar (!), conseguiram encontrar três palavras gregas em todo o livro de Daniel e, munidos deste irrefutável argumento, apregoaram que o referido livro teria sido escrito por volta do século II a.C. e não em meados de 550 a.C.
Estudiosos do grego, aramaico e hebraico, após minuciosas análises e criteriosas investigações, acabaram concluindo que, mais uma vez, os ateus estavam redondamente enganados.
Mas, enfim, mesmo depois de todo esse conjunto de evidências, os ateus continuam a afirmar que o livro de Daniel e a própria Bíblia são uma fraude.
Qual seria a sua reação diante de um ateu que insiste em negar alguns versículos sagrados, mesmo depois de lhe serem apresentadas várias comprovações?
- "Ah, quer saber, cara, já que você não acredita em inferno, então vá à merda!"


Eu poderia citar CENTENAS de casos análogos em que ateus colocaram citações bíblicas em debate, questionando sua legitimidade e que, no entanto, para despeito e contragosto deles, tais citações acabaram sendo comprovadas como autênticas, reais.

Mas, ateus são ardilosos, eles vão alterando e alternando seus argumentos e suas acusações conforme vão se alterando também os fatos que evidenciem o quanto estão errados.
Jamais darão o braço a torcer. Agirão exatamente igual ao personagem da história que abre este texto.

Discutir ou debater com ateu militante (neo-ateu) é sempre assim: mesmo você não tendo obrigação nenhuma de provar a existência de algo que para você é tão óbvio, ele se sentirá na obrigação de lhe cobrar provas da existência daquilo que para ele não existe!
E o pior: você pode apresentar um milhão de argumentos, quer sejam estes filosóficos e científicos; além de não refutar nenhum deles, o ateu militante ('militonto') usará de todas as suas artimanhas para se esquivar, desviar o rumo e o conteúdo da conversa para, ao final, sair cantando vitória, mesmo que tenha sido fragorosamente derrotado.
Típico, mas, sobretudo, patético!




Renato J. Oliveira                        09 de junho de 2017










8.6.17

O mito da Idade das Trevas



A Idade Média foi o Período das Trevas, da escuridão:
Renascentistas cunharam, Iluministas adotaram.
Nascia ali uma torpe, mentirosa e vil afirmação,
propagada até hoje pelos tolos que nisto acreditaram.


A Igreja Católica freou todos os avanços na Idade Média:
Protestantes cravaram, Iluministas e ateus acreditaram.
Entretanto, nenhum deles é capaz de provar em suas enciclopédias
as mentiras, calúnias e farsas que, à revelia, lançam e lançaram.


Teriam eles aprendido ou acreditado em uma história diferente?
Seriam eles apenas replicadores de conspirações iluministas?
Ora, meus caros mitomaníacos, não é preciso ser muito inteligente
para demonstrar o quanto são falaciosos seus argumentos vigaristas.


Somente os preguiçosos mentais acreditam nesta grande besteira,
afinal, não é preciso ser sábio, gênio, polímata ou historiador
para comprovar que o mito da Idade das Trevas não passa de asneira.
e que só os ignorantes e mentirosos contemplam tal mentira com ardor.


Pior são aqueles que endeusam o Iluminismo ou outra corrente similar,
como se estas fossem os maiores atestados de uma mentalidade sã,
outros chegam ao cúmulo de, sua importância, querer equiparar
com Direito romano, Filosofia grega e Moral judaico-cristã.


Obviamente o Período Iluminista deixou algum positivo legado,
seria até desonesto afirmar que isso é uma mentira.
Mas, mentira maior e que muitos têm acreditado e até divulgado
é afirmar que durante a Idade Média o avanço diminuíra.


Não é preciso pedir provas a eles de suas mentiras conspiratórias,
nem é necessário debater para provar que estão enganados,
simplesmente convide-os para estudar a verdadeira história
e, se forem um pouco inteligentes, admitirão o quanto estão errados.



Felizmente, graças ao trabalho de alguns poucos historiadores,
como Jacques Le Goff, Regine Pernoud - que não sombreavam a verdade,
caem os mitos, caem as farsas, são desmascarados os impostores
e a Idade das Trevas vai desaparecendo à luz de uma nova realidade.


As invenções dos tais humanistas do Período do Renascimento
ganharam vida nas alcunhas de seu vasto e seletivo leque:
protestantes, iluministas, ateus e toda espécie de movimento
que tenham como intenção colocar a Igreja Católica em xeque.


Desonestamente, citam, coléricos, Cruzadas e Inquisições,
simplesmente espalhando notícias sem checar se são reais.
Reproduzem as mentiras, falácias, farsas e conspirações
movidos, sobretudo, pela rejeição e pelo ódio anticlericais.


Mais desonestamente ainda, fecham os olhos para as consequências
que muitas ideias iluministas e secularistas acarretaram no campo moral.
Quantas revoluções, quantas guerras, quantas mortes e quanta violência
não foram consumadas após a adoção desta suposta cosmovisão racional?


Sim, sabemos perfeitamente sobre os erros atribuídos à Santa Igreja,
afinal, tanto protestantes, quanto ateus não nos deixam esquecer.
Mas, assumir seus erros, culpas, crimes e mortes, ora veja,
é coisa que não vemos nenhum pró-iluminista ou ateu fazer!


Sempre procurando se esquivar daquilo que a história atesta,
os lunáticos inventam argumentos e tentam enganar a si próprios.
Todavia, abraçados a mitos e mentiras sobre a tal Idade das Trevas
nem parecem céticos dada à parcialidade de seus 'iluminados' olhos.


Os mitos da Idade Média e da Igreja continuarão a existir,
pois sempre existirão pessoas de má fé e as que se apegam às tolices.
Porém, não há nada neste mundo que seja capaz de extinguir
a força da verdade, destruidora de toda e qualquer charlatanice.


Se a Idade Média resume-se a um período de trevas e obscurantismo,
e se a Igreja Católica freou radicalmente o avanço e o progresso,
como explicar as grandes invenções e o crescimento científico
estimuladas justamente pela Igreja neste período pregresso?


As primeiras universidades surgiram no período medieval,
e foram difundidas a mando da Igreja Católica Romana.
Não seria, portanto, uma afirmação, no mínimo, irracional
acusar a Igreja com tantas conspirações e mentiras insanas?



Talheres, roupas íntimas, pólvora, armas de fogo, astrolábio,
desenvolvimento de técnicas de agricultura e navegação;
tantos gênios, pensadores, astrônomos, matemáticos e sábios
tornam o termo 'Idade das Trevas' uma obsoleta e obtusa contradição.


A menos que mudem o significado das palavras trevas e escuridão
ou que apaguem todos os tantos antigos registros históricos,
a sua mentirosa campanha de calúnia, injúria e difamação
só vai convencer os que se deixam enganar por qualquer falsa retórica.


Se os iluministas que tanto se proclamaram os donos da razão
despertassem hoje e vissem o que parte de suas ideias causaram,
certamente os mesmos teriam repúdio, asco, rejeição e aversão
aos conceitos sociais e morais que do Iluminismo resultaram.




Renato J. Oliveira              07 de junho de 2017













"O ódio fanático pela religião e pelas tradições filosóficas clássicas do ocidente se coadunam perfeitamente com o culto imbecilizante da classe acadêmica, científica ou burocrática. Na verdade, esses grupos foram elevados a um novo clero pela sacrossanta ideologia iluminista. O positivismo filosófico, travestido de "verdadeira ciência", virou uma nova "revelação divina" de nossos tempos. Uma "revelação", por assim dizer, idiotizante, que reduz a dimensão humana apenas aos caracteres puramente fisiológicos, negando as qualidades existenciais, espirituais, éticas e morais do ser humano. Quando se pergunta a um materialista o que é o amor, ele dirá que é apenas um fenômeno físico e material. Resta saber como o idiota provará algo que não tocamos, vemos, presenciamos fisicamente, mas apenas acreditamos sentir ou intuir.

Essa falsa doutrina, que diz libertar o homem da opressão da religião cristã, na prática, acaba por escravizá-lo. Os homenzinhos "iluministas" sonham com uma sociedade controlada pelo Estado, pela burocracia tecnocrática ou inspirada por ideais "científicos". O socialismo e todos os tipos de totalitarismo têm nesta forma de pensar uma grande inspiração."
 
Leonardo Bruno
(Conde Loppeux de la Villanueva)








O  PROGRESSO  TÉCNICO  NA  IDADE  MÉDIA


 Em geral,  os historiadores mostram grande má vontade para com o período medieval:  Teria sido uma época de superstição e atraso,  estagnação e crueldade.  É uma visão certamente preconceituosa,  causada pelo ódio à influência exercida naquela época pela Igreja Católica tradicional,  de cujo espírito estavam impregnadas,  em maior ou menor grau,  todas as instituições.

Todavia,  a Idade Média foi época de muitos inventos,  grandes e pequenos,  de cuja origem às vezes não se suspeita.  Vejamos,  por exemplo,  o setor de transportes.

Com o desenvolvimento dos mastros,  a junção da vela latina e da vela quadrada,  a multiplicação dos remadores nas galeras,  o reforço do casco por meio de um esporão robusto,  obtiveram-se melhores condições de  navegabilidade. (Perroy, 1957 : 177).  Contudo,  maior progresso alcançou-se no século XIII,  ao generalizar-se o leme de cadaste,  que veio substituir o  pesado remo situado na popa do navio,  permitindo uma direção mais segura de embarcações muito maiores.  (Wolff, 1988: 146;  Heers, 1968 : 255).  “Devido à pressão exercida pela vela de proa sobre o leme,  tornou-se necessário um certo contrapeso mais a ré.  Isso levou ao acréscimo de um terceiro mastro na popa conhecido como mastro de mezena. A primeira ilustração datada de uma carraca de três mastros é de 1466. No final da Idade Média algumas dessas embarcações tinham 60 metros de comprimento com uma boca de 15 metros e uma capacidade de cerca de 1.400 toneladas.” (Hodgett,  1975 : 131)  A invenção do leme  (desconhecido na civilização greco-romana) e da bússola provocaram o ciclo das descobertas dos séculos XV e XVI.  (Fonseca, 1958 : 273-274).  É quando aparecem as primeiras cartas marítimas (Giordani, 1993 : 324),  invenções que,  associadas ao astrolábio, permitiram a navegação em alto-mar.  (Vianna, 1962 : 620).  Atribui-se ao Papa Silvestre II a invenção,  ou talvez a introdução,  a partir do mundo islâmico,  do astrolábio “para medir  a altura dos astros sobre o horizonte,  da esfera sólida destinada a estudar os movimentos ce-lestes e do primeiro relógio mecânico acionado por pesos.  As conseqüências foram incalculáveis.” (Puiggrós,   1965 : 173). O astrolábio,  de início ainda rudimentar,  aperfeiçoou-se pouco a pouco:  Presença dos azimutes,  aparecimento do ostensor,  exatidão na graduação da eclíptica.  (Beaujouan,   1959 : 130).  Em 1434,  surge a caravela em Valença.   (Wolff,  1988 : 237).  Nos Países Baixos,  apareceu  a eclusa;  constituída por uma câmara com portas em cada extremidade,  possibilitava a passagem da embarcação de um nível de água para outro. Canais e eclusas surgiram em Flandres e  na Holanda já no século XII.  (Hodgett, 1975 : 132).

No século XI,  os europeus começaram a usar ferraduras nos animais;  isto lhes aumenta a vida útil e,  com a  utilização da carreta de quatro rodas,  possibilita um distanciamento maior  entre a aldeia e os campos.  (Silva,  1986 : 47).  “Do século X ao século XII,  generaliza-se no Ocidente o moderno atrelamento dos animais,  a coelheira dura,  os tirantes,  a disposição em fila e a ferragem com pregos:  desde então os cavalos podem tirar com toda a sua força e peso,  em vez de erguerem a cabeça,  semi-estrangulados,  como ‘os altivos corcéis’ da Antiguidade.  (...) o jogo dianteiro móvel data do século XIV e permitirá a tração das peças de artilharia recém-inventadas.” (Beujouan, 1959 : 143). A adoção generalizada da coelheira possibilitou o atrelamento aos arados de cavalos  em lugar de bois,  uma mudança que ocorreu por volta de 1200.  Os bois também passaram a ser utilizados com maior eficiência através da invenção da canga frontal, pois esta deu-lhes mais força de tração que a anterior,  presa nos chifres. (Hodgett, 1975 : 220).  Surge um pequeno objeto,  na aparência evidente — mas totalmente desconhecido na Antiguidade:  o estribo, graças ao qual o cavaleiro podia empunhar a sua arma com muito mais força e confiança.  (Trevor-Roper,  1966: 102-104).

A pavimentação das estradas,  mais fácil e  mais econômica,  substitui  com vantagem o lajeamento das vias romanas.  O São Gotardo,  por tanto tempo intransponível,  transformou-se em via de trânsito,  através da primeira ponte pênsil de que se tem conhecimento,  datada provavelmente do início do século XIII.  (Pirenne, 1982 : 39).   Por outro lado, o  túnel de estrada mais antigo,  o do Monte Viso,  com de cerca de cem metros,  foi  construído entre 1478 e 1480,  com a finalidade de facilitar o transporte do sal da Provença. (Wolff, 1988 : 144).  Foi inventado também esse aparelho extraordinário,  o carrinho de mão,  que permite a um homem realizar o trabalho de dois. (Fremantle,  1970 : 125;  Vianna, 1962 : 621)

Nas cidades, a calçada destinada aos pedestres introduziu-se a partir de 1185  em Paris,  1235, em Florença,  1310, em Lübeck. (Mumford, 1965 : 401).  As ruas largas não eram necessárias,  “pois havia pouco tráfego sobre rodas,  e nenhum exigia trânsito rápido.”  (Hodgett, 1975 : 71).  São  também criações medievais a chaminé doméstica, a vela e o círio.   (Vianna, 1962 : 621)

A partir do século X, os cursos d’água são regulados,  cortados por desvios,  barragens e quedas destinadas a movimentar moinhos de cereais e lagares.  A roda d’água  era tão utilizada que na Inglaterra de Guilherme o Conquistador  (século XI)  contavam-se cinco mil.  Foi usada em toda a parte,  para bombear água,  serrar madeira,  pulverizar o pigmento das tintas e o malte da cerveja,  acionar máquinas, triturar minérios,  forjar ferro,  espichar arames...  Com ela,  a escavação  das minas ultrapassou em muito os 800 metros de profundidade.  (Puiggrós,  1965 : 179;  Hodgett, 1975: 28).  Aprimoraram-se as engrenagens e  outros dispositivos mecânicos. Surge o fole com placas e válvulas.  “No fim da Idade Média,  o alto-forno possibilitou a fabricação do ferro fundido.  Essa foi a invenção mais importante da indústria metalúrgica.  O bronze, uma liga de cobre e estanho,  com um ponto de fusão mais baixo que o ferro,  era fundido desde os começos do século XII e utilizado na fabricação de sinos e estátuas.” (Hodgett,  1975 : 189). “A fabricação de um sino exigia técnica especial para que o mesmo produzisse um som adequado.  O fundidor deveria,  antes de iniciar o trabalho,  calcular o tamanho do sino e as proporções exatas.” (Giordani, 1993 :  159).

A partir do século XII,  explorou-se outra fonte de energia: o vento.  Os moinhos de vento são mencionadas em Arles pela primeira vez entre 1162 e 1180.  (Hodgett, 1975 : 222).  No século XIII, já se comprova a existência de moinhos de maré na foz do Adour,  perto de Bayonne. (Giordani, 1993 : 158).

O primeiro poço artesiano conhecido foi perfurado  em 1126.  Entre as inovações medievais,  aparecem também a sericultura (introduzida na Sicília por volta de 1130),  a falcoaria,  o arenque defumado e a  “champanhização” do vinho branco. (Beaujouan, 1959 : 144).

Na indústria doméstica,  a roca substitui o fuso para enrolar a estriga. E a partir de 1280,  “a roda de fiar  ( provavelmente uma das grandes invenções da indústria têxtil)  compete com a roca e o fuso,  os quais possibilitaram às mulheres trabalhar enquanto supervisionavam outras atividades. No século XIV,  o linho é pela primeira vez empregado na confecção de roupas brancas,  em oposição aos grosseiros panos de lã até então usados, o que acarreta uma melhoria na higiene e o retrocesso da lepra;  fornece também matéria-prima barata para a indústria papeleira trazida da China no século XIII. (Beaujouan, 1959 : 144;  Hodgett, 1975 :161).  A introdução do tear horizontal de pedal provavelmente triplicou a produtividade dos lanifícios.  (Anderson,  1982 : 215).  Em fins do século XII,  surge um invento no processo de tecelagem da lã:  O pisão,  que substituiu a pisagem de pés humanos pela batida de martelo sobre o tecido.  Um tambor giratório,  preso ao eixo de uma roda d’água,  acionava os martelos.  Outra invenção foi a máquina cardadora,  constituída por um conjunto de rolos com cardas,  movimentado também pela força hidráulica. (Hodgett,  1975 : 160, 177).  O moinho mecânico de dobar a seda parece ter surgido na Itália no fim do século XIII. (Wolff, 1988 : 100).  Além disso,  foram inventados o botão e a camisa.

O álcool aparece em Salerno por volta de 1110 e sua fabricação melhora rapidamente, com o  emprego de desidratantes,  como o carbonato de potassa. Além disso, a técnica da destilação aperfeiçoa-se,  empregando-se  o alambique clássico cujo escoadouro tubular,  em forma de  serpentina,  mergulha numa cuba para a circulação da água. (Beaujouan, 1959 : 144-145).   Em Toulouse,  fabrica-se aguardente no começo do século XV,  “o último grande século do comércio de vinho.  Concorrentes vão aparecer e desenvolver-se:  em primeiro lugar a cerveja,  que se aprende a fabricar melhor na Alemanha no século XIV, com a utilização do lúpulo.”   (Wolff,  1988 :  89).

Alberto Magno (1183-1280) conseguiu preparar  a potassa cáustica.  Foi o primeiro a descrever a composição química do cinabre,  do alvaiade e do mínio.    Raimundo Lúlio (1235-1315) preparou o bicarbonato de potássio.    Teofrasto Paracelso (1493-1541) descreveu o zinco,  desconhecido até então.  Introduziu igualmente na medicina o uso dos compostos químicos.

Os óculos para corrigir a miopia aparecem por volta de 1285;  primeiro,  de cristal de rocha, depois de vidro.  Nos séculos seguintes,  outros artesãos iriam melhorar as lentes, de onde resultariam o telescópio e o microscópio.  (Fremantle, 1970 : 149).

Os relógios mecânicos de peso difundem-se no fim do século XIII.   No século XV  surgem os relógios de areia,  ou ampulhetas. (Wihthrow, 1993 : 119)

O estilo gótico,  na arquitetura,  surge como um progresso essencialmente técnico,  que consistia numa diminuição das pressões exercidas pelas abóbadas,  as quais podiam elevar-se pelo afilamento das flechas e o equilíbrio dos arcobotantes leves  (filhos da ciência dos números, inventados em Paris em 1180 para erguer mais alto a nave de Notre-Dame)  e colunas com coruchéus.  As abóbadas atingem alturas cada vez maiores:  32 metros em Paris,  37 em Chartres ,  42 em Amiens,  48 em Beauvais!  Acessoriamente,  a abóbada melhorava os valores acústicos dum edifício destinado à execução do canto coral.  Por sua vez,  o adelgaçamento das paredes fez desabrochar a técnica do vitral,  cujo emprego fora até então limitado pela estreiteza das aberturas românicas;   os vãos puderam alargar-se,  havendo  mais espaço para as janelas e, assim,  as igrejas tornam-se mais iluminadas. No período que vai de 1170 a 1270 construíram-se na França mais de 500 grandes igrejas góticas.   (Fremantle, 1970 : 127;  Duby, 1979 : 121, 281;  Perroy, 1957 : 166-167) .  Aliás,  a herança mais duradoura da Idade Média é sua arquitetura.  Os castelos são em sua maioria ruínas impressionantes;  as catedrais continuam de pé,  desafiando os séculos. (Ferguson, 1970 : 220).

No domínio das obras públicas,  mencionam-se  as pontes com arcos em segmento,  as comportas e  as dragas.  (Beaujouan, 1959 : 145-146)

A contabilidade ganha em clareza com a adoção do método veneziano das duas colunas,  frente a frente  (crédito e débito);  mas  sua transformação mais importante consistiu nas partidas dobradas que,  provavelmente,  surgiram simultaneamente em várias cidades italianas entre 1250 e 1350.  Elas não precisarão sofrer,  até o fim do século XIX,  senão pequenas alterações de detalhe.   A letra de câmbio aparece no século XIII.  (Wolff : 1988 : 126).   Os cambistas examinavam e pesavam as moedas;  do “banco”  onde eles realizavam essa operação surgiu a instituição bancária, e as variadas práticas financeiras nasceram desse serviço primitivo de câmbio de dinheiro. (Fremantle, 1970 : 74).   O seguro marítimo está presente em documentos genoveses  desde o século XII. (Pirenne,  1982 : 124).

As feiras,  existentes desde o século XI,  eram centros de intercâmbio em grande escala ,  que se esforçavam em reunir  o maior número possível de homens e produtos. (Pirenne, 1982 : 102).

Foram fundadas no século XIII, algumas organizações postais privadas.  Em 1357,  dezessete companhias florentinas fundaram a ‘Scarsella dei Mercanti Fiorentini’ que mantinha,  toda semana,  um correio comum e nos dois sentidos com Avignon.  Foi a primeira companhia postal conhecida,  cujos estatutos foram conservados. (Wolff, 1988 : 156).

“Em 1305,  para uniformizar as medidas em certos negócios,  o rei Eduardo I,  da Inglaterra, decretou que fosse considerada como uma polegada a medida de três grãos secos de cevada,  colocados lado a lado. Os sapateiros ingleses gostaram da ideia e passaram a fabricar,  pela primeira vez na Europa,  sapatos em tamanho padrão,  baseados no grão de cevada.” (Superinteressante,  São Paulo,  2 : 13, fev. 1988).

A obra medieval de Beda contém a primeira investigação científica das marés,  envolvendo o mais antigo estudo sobre  o intervalo médio entre o momento da maré cheia e o do trânsito anterior do meridiano pela lua. (Whithrow, 1993 : 90).

“A primitiva lavoura utilizava,  no Médio Oriente e no Mediterrâneo,  o sistema da ‘sulcagem’:  um espigão,  com a ponta virada para baixo,  puxado por uma junta de bois,  primeiro numa direção,  depois transversalmente,  arroteava um lote quadrado de terra.  Este método era suficiente para os terrenos leves e secos.  Mas, nos solos húmidos e pesados do norte da Europa,  esse tipo de arado era inadequado,  exceto nos outeiros bem drenados.  Por conseguinte,  a agricultura foi,  a princípio,  praticada apenas em zonas muito limitadas.  Na Idade Média,  começou a generalizar-se,  gradualmente,  pelo Norte da Europa,  um novo tipo de arado.  Tratava-se de um arado pesado com lâmina e relha para fender o solo e uma aiveca para voltar os torrões  para os lados e abrir um sulco,  drenando desse modo o terreno,  ao mesmo tempo que o lavrava.”  (TrevorRoper, 1966 : 121-122;  Heers, 1968 : 121). Começa-se a utilizar a grade; revolvido mais amplamente,  melhor arejado,  o solo absorve melhor a marga, uma argila que contém carbonato de cálcio e,  quando misturada à camada superior do solo,  mostra-se um fertilizante valioso. (Perroy, 1957 : 23-24).  A irrigação (de pastos e terras de lavoura) começou a ser empregada em larga escala e a Itália provavelmente abriu o caminho. Na Idade Média,  outra invenção,  o mangual,  que substituiu a vara de bater,  aperfeiçoa o processo de debulha. (Hodgett, 1975 : 29, 221;  Mumford, 1965 : 337).

Nesse período,  além das plantas cultivadas nos tempos clássicos,  foram aprimorados:  A espelta,   o centeio,  a aveia e o fagópiro.  Além do sorgo,  outras culturas foram introduzidas na região mediterrânea,  pelos gregos ou árabes:  Arroz,  cana-de-açúcar,  algodão e amoreira.   (Hodgett,  1975: 30,  225).  O pousio trienal e,  a partir do século VIII,  o sistema de três plantações alternadas,  permitem a aclimatação de novas culturas e aumentam acentuadamente a produção agrícola.

Seria o mundo medieval um inferno de misérias?  Descobre-se o contrário a partir de um levantamento referente à cidade de Toulouse,  onde,   em 1322, havia 177 açougueiros,  ou  seja,  um para cada 226 habitantes,  “para uma população máxima de 40.000 almas — cerca de duas ou três vezes mais que hoje;  e alguns figuravam entre os comerciantes mais ricos da cidade.”  (Wolff, 1988 : 82-83).  A conserva do arenque no sal foi descoberta em 14l6,  por Willem Beeckelz.  (Fonseca, 1958 : 314).  “Apareceram as boas maneiras,  a ‘etiqueta’,  a faca passou a ser um componente da mesa,  assim como o garfo,  que acabou se tornando um utensílio doméstico após a peste negra  (1348-1349).”    (Villa, 1998 : 10).

“Já em 1159,  os primeiros pôlderes,  porções de terra tomadas aos alagadiços ou ao mar por meio de diques,  foram criados em Flandres.” (Mumford, 1965 : 336).  A maior parte dos diques holandeses foi construída entre os anos de 1250 e 1350.  Em 1408,  aparece o primeiro exemplo conhecido de moinho de vento para  bombear a água dos pôlderes.

Depois da manivela  — descoberta de importância fundamental — ocorreu  a invenção alemã da  biela,  peça rígida com duas articulações para transformar o movimento rotativo em alternativo. Começaram a utilizar-se ferramentas, como a plaina, e passou-se a usar o carvão como combustível. Diversas invenções,  como a cola e o papel,  foram transmitidas pela China à Europa.  (Whithrow,  1993 : 102, 109).  A tinta romana para escrever,  feita do negro da fumaça com goma e água,  não tinha fixadores;  era uma tinta moída;  ao passo que a utilizada  na Idade Média se fazia por infusão,  com goma,  pedra-ume e resina de carvalho.  (Spina, 1977 : 30-31).

Vê-se,  portanto,  que a Idade Média,  ao contrário do que muitos imaginam,  foi extremamente fecunda em avanços técnicos.


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fonte: Lepanto 
(http://www.lepanto.com.br/historia/o-progresso-tecnico-na-idade-media/)








"Um dos traços constitutivos da mentalidade revolucionária é a compulsão irresistível de tomar um futuro hipotético – supostamente desejável – como premissa categórica para a explicação do presente e do passado. Nessa perspectiva, a história humana é vista como um trajeto linear – embora entrecortado de abomináveis resistências – em direção ao advento de um estado de coisas no qual o curso total dos acontecimentos encontrará sua consumação e sua razão de ser.
Mais cômica ainda, ou tragicômica, torna-se essa inversão quando, à maneira iluminista, o futuro esperado é descrito como o triunfo da racionalidade científica sobre o obscurantismo das crenças bárbaras. Pois a concepção futurocêntrica da História, virando de cabeça para baixo a hierarquia do necessário e do contingente já traz em seu bojo a destruição completa da lógica, do método científico e de toda possibilidade de compreensão racional da realidade."


(Olavo de Carvalho)