O Palmeiras vinha de sucessivas vitórias e acumulando uma invencibilidade de 11 jogos. A equipe estava completa e em plena forma, mas na última hora o craque mais experiente, Julinho, sentiu uma contusão e chegou a pedir para o técnico Filpo Nuñes deixá-lo em São Paulo. Filpo implorou para Julinho viajar com a equipe, mas preparou Germano para substituir o grande craque. Germano era um ponteiro revelado pelo Flamengo, que foi jogar na Itália e França e havia sido repatriado pelo Palmeiras.
Já no vestiário, Julinho, ao perceber a importância daquele momento, com o estádio lotado, o Palmeiras representando a Seleção, não permitiu que Filpo escalasse Germano e informou ao treinador que jogaria aquela partida nem que fosse com uma perna só. O Palmeiras entrou em campo com Valdir Joaquim de Moraes no gol, Djalma Santos (que completaria 92 jogos pela Seleção justamente nesta partida) na lateral direita, Djalma Dias e Waldemar Carabina compondo a zaga e Ferrari na lateral esquerda (no lugar do titular Geraldo Scotto). O meio-campo com Dudu e Ademir, municiando Julinho pela direita, Rinaldo pela esquerda e Tupãzinho e Servilio no ataque.
No banco, Picasso, Procópio, Santo, Zequinha, Germano, Ademar Pantera, Dario e Gildo. Uma verdadeira Seleção Brasileira. Waldemar Carabina foi designado o capitão do time para esta partida. No banco, Don Filpo Nuñes, o “bandoleon”, argentino de nascimento e palmeirense e paulistano por opção, tornar-se-ia naquela tarde o único treinador estrangeiro a dirigir a Seleção Brasileira. Uma honra que ele soube valorizar, respeitar e reconhecer até o fim de sua vida. No jogo desde o começo, o Palmeiras (Seleção Brasileira) se mostrou superior.
Aos 2 minutos, Servílio, de cabeça, quase abriu o placar. Aos 6, Rinaldo avançou e chutou com força rente ao gol do Uruguai. Aos 10, Tupãzinho e Servilio fizeram linda tabela, mas foi somente aos 27 minutos que, num ataque do craque Julinho, este driblou o marcador, avançou e cruzou para a área, mas o zagueiro Cincunegui cortou o cruzamento com o braço, cometendo pênalti. Rinaldo, o batedor oficial, foi lá e fez 1 x 0 para o Brasil.
Pouco depois, aos 30 minutos, houve novo pênalti de Cincunegui, desta vez sobre Rinaldo, que entrava com tudo pela esquerda e foi derrubado, mas o juiz não assinalou. Aos 34, o mesmo Rinaldo desceu pela esquerda e cruzou rasteiro, Tupãzinho dividiu com o zagueiro e na sobra encheu o pé sem chances para Taibo, 2 x 0, e o Mineirão inteiro aplaudia e se encantava com a Academia. No final do primeiro tempo, Ademir da Guia também foi derrubado dentro da área em novo pênalti não marcado pelo árbitro.
No intervalo, o Palmeiras fez as alterações previstas: Picasso no lugar de Valdir; Procópio no de Waldemar Carabina; Zequinha no de Dudu; Germano no de Julinho; e Ademar Pantera no de Tupãzinho. Mesmo com cinco substituições, o Palmeiras voltou tão forte quanto na primeira etapa e continuou dominando a partida. Aos 18 minutos, Dario entrou no lugar de Rinaldo e, após muitas chances perdidas, aos 29 minutos, Germano marcou um golaço, para alegria da torcida brasileira.
Ficha Técnica
Brasil (Palmeiras) 3 x 0 Uruguai
Brasil (Palmeiras)
Valdir de Moraes (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina (Procópio) e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Ademir da Guia; Julinho (Germano), Servílio, Tupãzinho (Ademar Pantera) e Rinaldo (Dario). Técnico: Filpo Núñes.
Uruguai
Taibo (Bogni); Cincunegni (De Britos), Manicera, Varela e Caetano; Nuñez (Lorda) e Duksas; Franco, González, Héctor Silva (Virgílio) e Esparrago (Morales). Técnico: Juan López.
Árbitro: Eunápio de Queiroz
Data: 07/09/65
Local: Estádio Magalhães Pinto (Mineirão), em Belo Horizonte (MG)
Público: aproximadamente 80.000 pagantes
Renda: Cr$ 49.163.125,00
Gols: Rinaldo (27') e Tupãzinho (35') do 1º tempo; Germano (29') do 2º tempo da etapa final.
Obs.: Havia uma taça em disputa, mas ao final da partida o Palmeiras, entendendo que o troféu pertencia de direito à CBD, pois estava apenas representando-a, deixou o mesmo com a Comissão Organizadora e retornou à São Paulo.
Vinte e três anos depois, em 1988, descobriu-se que o troféu continuava no Mineirão, pois a CBD também não havia requisitado o troféu e assim ficou decidido pelas partes que o Palmeiras deveria honrosamente ficar com o mesmo e que hoje está exposto na Sala de Troféus da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Texto: Porcopédia
DEPOIS DESSE CONVITE, A CBD VOLTARIA A REPETIR O FEITO SÓ EM OUTRAS DUAS OCASIÕES:
EM NOVEMBRO DO MESMO ANO CONVIDOU O CORINTHIANS PARA REPRESENTAR A SELEÇÃO DIANTE DO ARSENAL DA INGLATERRA, EM LONDRES...
(O BRASIL/CORINTHIANS PERDEU POR 2 A 0).
EM 1968, TAMBÉM NO "MINEIRÃO", O ATLÉTICO MINEIRO REPRESENTOU A SELEÇÃO E VENCEU A SELEÇÃO DA IUGOSLÁVIA POR 3 A 2.
DEPOIS DISSO NUNCA MAIS HOUVE NENHUM CONVITE OFICIAL POR PARTE DA CBD/CBF.
(EM 68 O BOTAFOGO-RJ AJUDOU A COMPOR A SELEÇÃO QUE DERROTOU A ARGENTINA POR 4 A 1 NO MARACANÃ, PORÉM HAVIAM 5 JOGADORES DE OUTROS 3 CLUBES CARIOCAS... EM 1984, A SELEÇÃO OLÍMPICA FOI FORMADA POR ATLETAS DO INTERNACIONAL-RS, PORÉM COM 4 JOGADORES DE OUTROS TIMES)
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