Se há algo que me irrita e me incomoda profundamente no ser humano é a HIPOCRISIA compulsiva.
Claro, todos nós, ao longo de nossa existência, provavelmente já fomos hipócritas em alguns momentos, mas acredito que isso está dentro da normalidade, dentro daquilo que é aceitável, afinal, não somos perfeitos, não somos santos. Todos nós já fomos mentirosos, parciais, apaixonadamente partidários (de seja lá o que for) e HIPÓCRITAS em vários momentos de nossa existência, ainda que não percebamos de fato - ou neguemos para nós mesmos - quando isto ocorre, simultaneamente falando. Muitas vezes só nos damos conta de nossa hipocrisia dias, semanas, meses ou até anos depois de nos escudarmos equivocadamente dela. Já os compulsivos, envenenados pela soberba pessoal, jamais vão admitir que em determinado momento foram hipócritas. Estes certamente serão hipócritas por toda a vida; são os hipócritas recorrentes e incuráveis. Exclusivamente a estes dedico as próximas linhas e passarei a nomeá-los apenas como hipócritas.
Geralmente estas pessoas apresentam desvios graves tanto de caráter quanto de personalidade, opinião, conduta e principalmente de sanidade mental. Por mais que errem, jamais admitirão publicamente seus erros e é aí que reside a característica mais gritante de sua hipocrisia, já que por muitas vezes você as verá repetindo e frisando justamente o contrário, ou seja, afirmarão que se errarem, assumirão seus erros.
Todo hipócrita é inevitavelmente um mentiroso compulsivo.
HIPOCRISIA E MENTIRA
O hipócrita lança mão da mentira e sempre que é desmascarado e desmentido sua hipocrisia vem à tona ainda mais incisiva e incoerente (embora saibamos que coerência e hipocrisia não convergem em nada). Ainda que diga coisas que configurem mentiras até absurdas, para o hipócrita será relativamente fácil desviar o foco delas, pois certamente está acostumado a ser, até com certa maestria, ambos ao mesmo tempo: mentiroso e hipócrita. Sem um pingo de vergonha na cara, além de mentir sobre um fato que tenha sido contestado, o hipócrita fará uso da mentira também contra quem ousou o contestar; ele destilará todo seu ódio, ainda que este venha camuflado com sua habitual hipocrisia.
Todo hipócrita é inevitavelmente um odiador compulsivo.
HIPOCRISIA E ÓDIO
O hipócrita não odeia apenas seu contestador, mas a própria verdade em si. Quando a verdade lhe é exposta com toda sua plenitude, detalhada e incontestavelmente verídica, o hipócrita, que defende sua VERDADE INVENTADA (sabe-se lá por quem), ainda que não tenha, diante do que lhe é exposto, um ÚNICO argumento palpável, plausível ou coerente para apresentar, passará a nutrir um profundo ódio contra aquele que o confrontou com a verdade, ao expor-lhe sua hipocrisia. De maneira até previsível, ele tentará apagar todos os rastros e vestígios que demonstrem o quão hipócrita, mentiroso e odiador ele é. O problema (para ele, claro) neste caso é que em sua prática constante de subestimar a inteligência de outras pessoas, esquece-se que alguns rastros e vestígios jamais podem ser apagados por completo, especialmente quando a profundidade dos rastros causa impacto, deixando uma espécie de "marca" permanente e indelével, ainda que não seja vista a olho nu. Em outras palavras, por mais que o hipócrita tente, ele jamais conseguirá ocultar ou apagar completamente as PROVAS que produziu contra si mesmo. Costumamos dizer que o ódio cega e talvez seja esta a principal razão de o hipócrita ser praticamente incapaz de enxergar além de seu próprio ego, o que também explica sua mania de subestimar a inteligência daqueles que o desmascaram ou o confrontam.
O hipócrita odeia. Assim como ele odeia admitir que é MENTIROSO (com ou sem culpa), também odeia todo aquele que insistir para que ele admita que mentiu ou se equivocou. Uma vez movido por seu ódio pessoal, o hipócrita fará ataques covardes, desleais e repletos de indiretas, afinal, como todo bom autêntico HIPÓCRITA que se preze, falar ou dirigir-se diretamente é algo que ele é quase incapaz de fazer. As indiretas são uma especialidade dos hipócritas, já que todos eles, sem nenhuma exceção, são COVARDES por natureza.
Todo hipócrita é inevitavelmente um covarde compulsivo.
HIPOCRISIA E COVARDIA
O hipócrita, como nem poderia deixar de ser, faz questão de mostrar-se firme, forte e corajoso quando está se posicionando publicamente a respeito de algo, mas no fundo é um grande covarde. A maioria dos hipócritas compulsivos costuma fazer uso de ameaças e ofensas pessoais, mas quando são tratados como costumam tratar outras pessoas, fazem-se de vítimas, tentando inverter a ordem dos fatos e, consequentemente, a situação a seu favor. Um simples debate de ideias com um hipócrita desta "estirpe" pode transformar-se em ameaça de processo por calúnia e difamação mesmo se o caluniado e difamado for o debatedor, afinal, um hipócrita não tem escrúpulos e muito menos senso de justiça. Ainda que seja o mais ferrenho crítico da vida alheia e de todas as pessoas a seu redor (que não o bajulem, claro), o hipócrita jamais admite que façam o mesmo com ele, como se estivesse acima de qualquer julgamento ou opinião, como se só ele tivesse o direito de se expressar, de criticar, de denunciar...
Mas, mesmo soltando suas frequentes indiretas e demais provocações, quando o hipócrita for concretamente confrontado e encontrar-se pressionado, não hesitará em fugir e se esconder, mas obviamente isto é algo que ele jamais admitirá. O orgulho lhe cega.
Todo hipócrita é inevitavelmente um orgulhoso compulsivo.
HIPOCRISIA E ORGULHO EXCESSIVO
Admitir um erro nem sempre é uma das tarefas mais fáceis, mas para uma pessoa sensata, por mais difícil que isso seja, é praticamente uma obrigação, ainda mais se o erro for público ou ganhar importantes ou significativas proporções - e não importa se o erro foi proposital ou não. Uma pessoa sensata, ao tomar conhecimento de seu equívoco, também tomará as medidas necessárias para que seu erro não seja difundido e, consequentemente, perpetuado, mas o hipócrita, embriagado por seu orgulho e por sua soberba pessoal, vai ficar muito mais preocupado em usar de suas artimanhas (geralmente vis e desleais) para tentar desviar o foco de seu(s) erro(s) e, se possível, atingir ou desqualificar aqueles que tenham ousado apontar suas incongruências, do que tentar ao menos reparar seus possíveis erros. Despudoradamente, valendo-se de suas mentiras e soberba habituais, o hipócrita conseguirá enganar até a si mesmo, levando-o inclusive acreditar que está coberto de razão, ainda que esteja flagrante e completamente errado.
Todo hipócrita é inevitavelmente um soberbo compulsivo.
HIPOCRISIA E SOBERBA EXCESSIVA
O sentimento de superioridade sobre a grande maioria das pessoas é uma característica bastante comum dos hipócritas a que este texto se refere. E é justamente esta característica que acaba por derrocá-lo (cedo ou tarde), já que (como já dito anteriormente) a soberba acaba levando-o a subestimar a capacidade e a inteligência daqueles que o desmascaram, e estes, por sua vez, que têm como arma apenas a VERDADE, sempre sobressairão-se sobre o hipócrita soberbo (cedo ou tarde).
Além de ter uma imensa dificuldade em aceitar a verdade (ou a realidade), o hipócrita também tem dificuldade em lidar com pessoas que não tenham a pretensão de lhe bajular de alguma forma. E a razão (na verdade, causa) é muito simples: sua soberba pessoal. O hipócrita geralmente projeta sobre si mesmo uma imagem superdimensionada de sua pessoa, de sua vida ou de seu trabalho e, ainda que sua personalidade, sua biografia e seu trabalho sejam medíocres, ele jamais admitirá qualquer tipo de crítica a eles, mesmo se tais críticas forem consistentes e pertinentes. Não raramente veremos muitos hipócritas exaltando a si mesmos como se fossem verdadeiros baluartes da glória e da grandeza. Neste sentido, a bajulação é um traço indispensável em toda amizade que o hipócrita faça, ou seja, na medida em que a bajulação e os encômios forem diminuindo, a camaradagem fatalmente se esfriará, podendo inclusive a relação entre hipócrita e bajulador (ou "ex-bajulador") transformar-se em inimizade de um dia para o outro, de repente. O hipócrita consegue transformar um amigo em inimigo com a maior naturalidade do mundo e, com a mesma facilidade, transforma "verdade" em "mentira", herói em vilão, certo em errado (e etc.), tudo de acordo e conforme suas conveniências, apenas para sustentar sua hipocrisia. A contradição, entre todas as outras características negativas apontadas até aqui, talvez seja a mais usual e comum dos hipócritas (quase sempre alinhada à mentira, claro).
Todo hipócrita é inevitavelmente um contraditório compulsivo.
HIPOCRISIA E CONTRADIÇÃO EXCESSIVA
Em 2007 escrevi uma frase que dizia: "Excetuando-se a essência, somos o que hoje somos e não o que ontem fomos". Qual seria a essência ou característica principal de um hipócrita? Além de sua hipocrisia, talvez a falta de personalidade (e de palavra) seja o que melhor o define, já que suas opiniões podem mudar drasticamente de um dia para o outro, quer seja para sustentar uma mentira ou simplesmente para atingir determinada pessoa (só para citar dois exemplos). As pessoas de boa fé, conforme vão evoluindo ou aprendendo coisas novas, vão também reformulando suas ideias e convicções de acordo com o que absorveram (de bom ou de ruim), e mesmo quando escolhem um caminho errado nunca o fazem propriamente para sustentar uma hipocrisia (e quando o fazem, não tardam em admitir o equívoco). Já o hipócrita, guiado pela mentira, movido pelo ódio, escudado pela covardia, embriagado pelo orgulho, pela soberba e pela contradição, vai inclusive deixar de acreditar que o sal é salgado se isso lhe parecer conveniente à sua hipocrisia. E ainda que seja notória e flagrante sua incoerência, ele chamará sua drástica mudança de postura de evolução!
Enfim, a hipocrisia em excesso quase sempre provém de mentes doentias ou, no mínimo, afetadas por algum tipo de transtorno ou trauma pessoal (geralmente de infância) que assemelha-se muito à mitomania e, nos casos mais graves, à Síndrome de Alice no País das Maravilhas (Síndrome de Todd), tamanho o grau de aparente insanidade mental que alguns hipócritas compulsivos apresentam. Sem nenhum exagero, beira à demência, literalmente.
Mas, como não me atrevo a falar com autoridade daquilo que desconheço ou não domino, faço questão de deixar muito claro que esta conclusão final não passa de uma observação, uma ponderação pessoal (no máximo, uma analogia de um leigo em patologia) que não pretende de forma alguma dar um diagnóstico definitivo acerca do comportamento dos muitos hipócritas compulsivos espalhados pelo globo terrestre. Cada caso é um caso, mas, sem a pretensão de também generalizar, arrisco afirmar, até como uma conclusão do presente texto, que realmente acredito que o hipócrita compulsivo apresente todos ou quase todos os aspectos e características aqui mencionados. Resumindo: O HIPÓCRITA COMPULSIVO É TAMBÉM UM MENTIROSO, ODIADOR, COVARDE, ORGULHOSO, SOBERBO E CONTRADITÓRIO COMPULSIVO. Podemos assim afirmar, munidos de toda razão e bom senso, que é uma pessoa digna de pena, digna de misericórdia (sobretudo, divina). Que DEUS tenha piedade!
Renato J. Oliveira fevereiro de 2019