22.1.12

O Menino



Em meio aos faróis e luminosas placas, além do barulho turbulento da cidade, aquele menino caminha impacientemente; parece estar à procura de alguma coisa.  Seus olhos me dão a impressão de que ele está sendo perseguido e discriminado por outros olhos, mas talvez seja só impressão.

Com os pés descalços na calçada cheia de cacos, copos plásticos e anotações, ainda parece que ele está procurando alguma coisa.

Nesse momento ele está passando em frente a um bar de alta classe, geralmente frequentado por pessoas de um nível econômico bem elevado.  Um dos rapazes que estava sentado, ao vê-lo caminhando, levantou-se imediatamente e gritou uma palavra a meu ver um tanto quanto agressiva, ofensiva.
O menino apenas olhou, parecendo não dar muita importância, mas, mesmo assim o rapaz continuou ofendendo, agora ajudado por outras pessoas.

Depois de passado o bar, o menino parou em frente a um supermercado, onde se encontravam quatro enormes latões de lixo.  Ele ficou um bom tempo revirando os quatro latões, nem se importando com o trânsito de veículos que, naquela rua geralmente é constante, mesmo nas primeiras horas do dia.
Logo após revirar o lixo, ele saiu com duas sacolas plásticas cheias de frutas e verduras apodrecidas.

Ainda caminhando, ele se encontra com outro menino que parece ser seu amigo; entrega a ele uma das sacolas e logo depois volta a caminhar.

Em frente a uma loja de eletrodomésticos ele apanha uma enorme caixa de papelão e já começa a diminuir os passos.

Na Capela São Vicente ele para novamente e é rodeado por outros meninos, todos, aparentemente seus amigos.
Nesse momento, um deles retira de dentro de suas roupas uma lata de cola de sapateiro, que naquela hora representava para todos eles um tipo de esconderijo.
Após o encerramento da alienação, o menino estende a caixa de papelão no chão, se cobre com ela, lentamente vai fechando seus olhos e começa a dormir.

O menino nem reparou que eu o observava. Ao ver tudo isso, virei as costas e saí com o coração carregado de tristeza...me senti incapaz.

Infelizmente tudo isso acontece todos os dias num país miserável como o nosso.

Fica no ar a seguinte pergunta:

O QUE SERÁ DO FUTURO 
DO PAÍS E DO MUNDO?


Texto: Renato J. Oliveira            abril de 1.995


  • Conto fictício extraído do Zine Agonia Revoltante! # 13, edição de maio de 1.995



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