21.4.12

Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira



Há mais de 2 séculos atrás, Tiradentes, o principal ativista do movimento que ficou conhecido como  Inconfidência Mineira, era executado em plena praça pública. 
O motivo? Pesava-lhe a acusação de idealizar um levante contra as imposições da Coroa Portuguesa e de incitar o povo à adesão de tal movimento.
Joaquim José da Silva Xavier nasceu no dia 12 de novembro de 1.748, na cidade de Pombal, nas Minas Gerais.  Pode-se dizer que não teve uma infância das melhores, já que aos 7 anos de idade, em 1.755, perdeu a mãe e dois anos depois o pai, ficando sob tutela dos parentes mais próximos.  Aprendeu a ler e a escrever com um de seus irmãos.  Naqueles longínquos (e árduos) tempos do domínio português, o futuro conjurador mineiro, vendo-se obrigado a colaborar para o seu próprio sustento e o dos seus irmãos, saiu ainda muito jovem em busca de trabalho, tendo exercido como primeira profissão a de vendedor ambulante. Mais tarde trabalhou também como tropeiro e minerador. Com o padrinho, que era cirurgião, aprendeu (e praticou) lições básicas de medicina e odontologia, o que muito influenciou para que ele inserisse na profissão de dentista – origem do apelido Tiradentes.
Descontente com o baixo salário, resolveu partir para a profissão de militar, ingressando no Regimento de Dragões do Estado de Minas Gerais, onde foi sendo preterido até ocupar a posição de Alferes (o que hoje corresponde a 2.o tenente).
Naquela época, por ser a mais rica capitania brasileira, Minas Gerais deveria render à Coroa Portuguesa 100 arrobas de ouro por ano (equivalente a 1.500 quilos). Era o chamado imposto ‘quinto’ (pago com ouro), instaurado nas Minas Gerais em 1.750 e que em 1.765, com a falta de 13 arrobas, gerou a “Derrama”, medida em que todos os habitantes mineiros tornaram-se devedores à Coroa Portuguesa.
E para agravar a situação, em 1.785, o governo português ordenou o fechamento de todas as oficinas de manufatura (metalúrgica e têxtil) e ouriversarias, com o propósito de coibir qualquer progresso econômico do Brasil Colônia.
Em julho de 1.788, com o acúmulo de 596 arrobas nas Minas Gerais, chegou o novo governador, Luís Antonio Furtado de Mendonça (o Visconde de Barbacema), trazendo uma ordem expressa para a “Derrama”, a imediata cobrança dos impostos atrasados. Com a ameaça de terem suas casas invadidas e todos os objetos de valor apreendidos pelas tropas do governo, toda a população de Minas Gerais ficou alarmada.
Foi aí que Tiradentes resolveu entrar para a história. No mês seguinte, em agosto de 1.788, ele viajou para o Rio de Janeiro à procura de José Álvares Maciel, um estudante que recentemente havia se formado em Filosofia e História natural, em Coimbra (Portugal). Inspirado pelas ideias liberalistas que absorveu na Europa, Maciel deixou Tiradentes à par de tudo o que estava acontecendo no mundo político europeu, inclusive sobre os ideais da Revolução Francesa.
À partir desse encontro, surgiu a ideia de iniciar um levante que trouxesse a tão sonhada independência do Brasil. Depois de outros encontros na casa de Maciel, Tiradentes regressou às Minas Gerais propagando suas ideias revolucionárias, buscando a adesão de pessoas influentes em Vila Rica (hoje Ouro Preto) e arredores.
Além de Tiradentes e Maciel, outros importantes adeptos da Inconfidência Mineira foram: Inácio José de Alvarenga Peixoto, Cláudio Manoel da Costa, Francisco Freire de Andrada, Tomás Antonio Gonzaga, Joaquim José Maia, Francisco Antônio de Oliveira, José Lopes de Oliveira, Domingos Vidal Barbosa, Salvador Amaral Gurgel, Luís Vieira da Silva e os padres Manoel Rodrigues da Costa, José de Oliveira Rollim e Carlos Toledo.
Durante as reuniões, ficou decidido que o local do levante seria nas Minas Gerais, no dia em que fosse cobrado a “Derrama”. Como bandeira, os inconfidentes adotaram o lema “Libertas Qua e Será Tamen” (de Virgílio, que significa “Liberdade, ainda que tardia”) e o triângulo da Santíssima Trindade (sugerido pelo próprio Tiradentes).
Dentre os principais planos da reforma revolucionária dos inconfidentes estavam: a Proclamação da República (com capital em São João Del Rey), a volta da manufatura, a construção de uma universidade em Vila Rica, a doação de terras para expandir a produção agrícola, entre outros.
Porém, ao tomar conhecimento do levante, através do sargento-mor Luis Vaz de Toledo Piza, irmão do padre Rollim, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, juntamente com Brito Malheiro e Correia Pamplona, todos devedores de considerável soma ao tesouro real, delataram os inconfidentes em 5 de março de 1.789, em troca do perdão de suas dívidas.
Tiradentes, que na ocasião encontrava-se no Rio de Janeiro, ainda tentou fugir, mas foi preso no dia 10 de maio de 1.789.
Depois disso, instaurou-se um processo para identificar e prender todos os conjuradores, que ficou conhecido como “Devassa” e durou 3 anos. Em 18 de abril de 1.792, 11 inconfidentes foram condenados à forca, mas somente Tiradentes, por assumir toda a responsabilidade pela liderança do movimento, foi enforcado em praça pública no Rio de Janeiro, no dia 21 de abril de 1.792, aos 43 anos.
Em seguida, seu corpo foi levado para Vila Rica, esquartejado e seus pedaços foram expostos nas vias públicas, na intenção de intimidar o aparecimento de mais insurreições.


Texto: Renato J. Oliveira      -        abril de 2.001


(Este texto foi publicado na edição # 24 do Informativo Mix Cultural, lançado em 21 de abril de 2.001)





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