26.7.12

Lampião: Herói ou Bandido?



Lampião, Maria Bonita e o “Cangaço” já foram motivo de inspiração para muitos filmes, livros e músicas pertencentes à cultura popular brasileira, inclusive para o folclore.
Mas quem teria sido Lampião, esta tão memorável figura de que tantos contam façanhas e proezas? Uns o louvam pelo renome de herói justiceiro, outros o repudiam pela fama de assassino frio e cruel, mas o fato é que mesmo depois de várias décadas após sua morte, Lampião continua despertando interesses e servindo de inspiração a muitas pessoas, sendo talvez a principal menção da história do banditismo aqui no Brasil.
Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1.897, no município de Vila Bela (atual Serra Talhada), interior do estado do Pernambuco, sendo o terceiro dos nove filhos do humilde casal José Ferreira da Silva e Maria Selena da Purificação.
Sendo obrigado a conviver sob os martírios que a pobreza e a seca lhe impunham, desde cedo Virgulino começou a trabalhar para ajudar a família que – apesar de possuir uma fazenda, a Passagem das Pedras – tão poucos recursos tinha. Com a escassez de alimentos, também aprendeu a atirar ainda muito jovem, visto que na época a caça se fazia obrigatória, sendo, quando não apenas uma complementação alimentar, o único item no cardápio.
Na adolescência começou a trabalhar como tropeiro, tornando-se um profundo conhecedor das estradas e dos atalhos do sertão nordestino.
Em meados de 1.917, quando então tinha 20 anos, Virgulino acabou sendo preso por um fato sem muita importância e, seus irmãos homens, Antônio, João, Livino e Ezequiel (as irmãs eram Angélica, Virtuosa, Maria e Amália), armados, invadiram a delegacia e forçaram a libertação do irmão. Como se não bastasse a ilegalidade, durante a ação o filho do delegado acabou sendo assassinado, o que desencadeou uma guerra entre famílias, coisa muito comum naquela época no sertão nordestino.
De um lado, a família dos Ferreira da Silva, de outro a influente família Barros, chefiada por José Saturnino de Barros, dono de uma grande fazenda vizinha.
Inúmeras emboscadas se sucederam de ambos os lados, mas as punições da lei só recaíam à família de José Ferreira. Em consequência dos conflitos, Virgulino e mais dois de seus irmãos acabaram sendo presos em épocas alternadas e devido a essa desvantagem, a família viu-se obrigada a mudar de região, partindo primeiramente para a Vila de Nazaré (em Pernambuco) e depois para Matinha de Água Branca (em Alagoas).
Virgulino começou a trabalhar no transporte de cargas de pele para o coronel Delmiro Gouveia, porém o sentimento de vingança obrigou-os a retornar a Pernambuco. Numa rápida investida, eles depredaram a fazenda de José Saturnino e a resposta também veio rápida: numa emboscada, em 22 de abril de 1.920, José Ferreira da Silva foi assassinado, acentuando nos filhos o ódio e a sede de vingança.
Virgulino e os outros irmãos homens, Antônio, Livino e Ezequiel (exceto João) decidiram então entrar para o bando de cangaceiros chefiado por Sinhô Pereira, passando a atuar em mais uma guerra entre famílias, a família Pereira – da qual tomaram partido – contra a família Carvalho.
Pouco depois, com a mudança de Sinhô Pereira para Minas Gerais, Virgulino assumiu a liderança do Cangaço, dando a este nova organização e novas estratégias de luta e ataque.
O apelido Lampião teria surgido nessa época, segundo alguns, durante o primeiro confronto com a polícia (que eles chamavam de ‘macacos’); consta que, devido a agilidade que tinha em manejar fuzis e à rapidez dos disparos, a boca de sua arma não parava de acender e, gabando-se, ele próprio dizia que ela era igual a um lampião.
Ainda em 1.921, outros dois confrontos com a polícia alagoana sucederam, mas nada parecia intimidar os cangaceiros que, devido a intensa perseguição policial, passaram sob as ordens de Lampião a se dividir em patrulhas pelos sertões.
Logo Lampião passou a ser temido por fazendeiros, prefeitos e policiais e em contrapartida respeitado e admirado pelo povo menos favorecido, a quem os cangaceiros frequentemente ajudava para em troca não serem delatados ou perseguidos.  Muitas das ações do bando eram cercadas de violência e não raramente resultavam em mortes, inclusive entre eles.
Em 12 de março de 1.926, Lampião, num encontro com Padre Cícero, recebeu dele a proposta – intermediada pelo governo federal – de agir com seu bando contra a Coluna Prestes; em troca lhe seria dado o perdão aos seus crimes.   Lampião aproveitou então para armar melhor seu bando e, duvidando da anistia que supostamente lhe seria dada, só atuou uma única vez contra a Coluna Prestes.
Em 1.927, ao tentar invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando foram vencidos e expulsos pela população armada, tendo invadido com êxito no mesmo ano, a cidade de Limoeiro, no Ceará.  Depois de passar por Pernambuco, em 1.929 Lampião conheceu na Bahia, Maria Déa, a Maria Bonita. Apaixonada por ele, ela decidiu abandonar o marido para seguir os bandoleiros, sendo a primeira mulher a integrar o Cangaço.
Juntos, os dois tiveram uma filha, Expedita Ferreira da Silva, concebida em plena caatinga baiana em 1.932 e deixada posteriormente com uma família de vaqueiros.
Numa perseguição incessável e já tendo agido nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, Lampião foi finalmente encurralado com outros 35 homens, numa caverna de frente ao rio São Francisco, na Fazenda Angicos (no Sergipe), onde na madrugada de 28 de julho de 1.938, ele, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram mortos.
Todos tiveram as cabeças decepadas (Maria Bonita, segundo consta, ainda estava viva) e depois enviadas ao Museu Nina Rodrigues, na Bahia (só foram enterradas em 1.969).
Ao morrer Lampião, Cristino Gomes da Silva, o ‘Corisco’, assumiu a liderança do Cangaço com a finalidade de vingar Lampião e o grupo de cangaceiros só foi culminar em 1.940, com a morte deste.


Texto: Renato Curse             29 de julho de 2.001


(Texto extraído do Informativo Mix Cultural de agosto de 2.001)




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